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O que você está fazendo na luta contra o HIV?

Rico Vasconcelos - Uol, 29/11/2019

Desde o ano de 1988 é celebrado no dia 1º de dezembro o Dia Mundial da Luta Contra o HIV/Aids. Na época da sua criação, o dia servia como um marco de solidariedade para as milhares de vítimas que a Aids já tinha feito até então. 

Hoje, depois de mais de três décadas de avanços e descobertas na prevenção e tratamento do HIV, temos o dia como um símbolo de que viver em um mundo livre do HIV/Aids é uma meta alcançável. Mas para chegar lá temos antes uma longa caminhada pela frente. 

Qual é o seu papel nesse processo? Tradicionalmente são divulgados, na semana do dia 1º de dezembro, os boletins epidemiológicos do HIV no Brasil e em todo o mundo, trazendo atualizados os dados compilados sobre essa epidemia, como por exemplo o total de pessoas vivendo com HIV, o número de novos casos registrados da infecção e de mortes em decorrência da Aids. 

Nos últimos anos, os boletins mundiais têm nos mostrado que, com a expansão do uso do tratamento antirretroviral, a partir do final da década de 1990, as mortes por Aids passaram a cair drasticamente entre aqueles que conseguiram acessar os medicamentos. No entanto, o número de novos casos de infecção por HIV ainda é muito alto e tem diminuído lentamente, sendo que somente no último ano foram ainda registrados 1.7 milhão de novos casos da infecção em todo mundo. 

Agora pense comigo. Se temos no Brasil o Sistema Único de Saúde com um programa gratuito de prevenção combinada e de tratamento antirretroviral, era de se esperar que não tivéssemos mais casos novos de infecção por HIV nem de mortes por Aids no país. 

Diferente disso, continuamos registrando anualmente mais de 40.000 novos casos da infecção e cerca de 11.000 mortes por Aids, evidenciando a gritante desigualdade no acesso à saúde existente no Brasil. Parte dessa desigualdade de acesso à saúde tem origem na rede de serviços do SUS, que se encontra cronicamente sobrecarregada e subfinanciada, mas não podemos deixar de pontuar a também importante falta de acesso à informação atualizada sobre HIV. 

Sem informação verdadeira, facilmente o senso comum cai na percepção equivocada do HIV, aquela estigmatizada e preconceituosa. Sem informação, é comum encontrar pessoas que acreditam em absurdos como: "HIV só acontece com quem fez coisa errada", ou "HIV é sinônimo de Aids, morte e sofrimento", ou "qualquer tipo de contato pode transmitir o vírus", ou ainda "casais com HIV não podem ter filhos".

Sem informação, o HIV é muito pior do que parece pois se torna pura discriminação. Nesse sentido, além de objetivar a melhora da rede de atendimento, para avançarmos na caminhada rumo ao controle da epidemia de HIV, precisamos trabalhar também o combate à desinformação e ao preconceito. 

Esse é um processo trabalhoso e de longo prazo, mas absolutamente fundamental. Para citar referências de iniciativas da sociedade civil que cumprem bem o objetivo de informar, dou dois exemplos. Um deles é o documentário Carta para além dos muros, do diretor André Canto, que conta a história da epidemia de HIV/Aids no Brasil e que estreia hoje no Netflix, Now, Oi Play e Vivo Play. 

E a mostra Mais Arte, Menos Aids, organizada pela Agência Aids, para abordar direitos humanos e prevenção. Ela está acontecendo durante toda essa semana no Parque Mário Covas, em São Paulo. Se está vivo neste planeta, você tem um papel muito importante na luta contra o HIV. Não espere pelo governo. Aprenda e dissemine conhecimento atualizado para ajudar no combate à discriminação. 

Quando a sociedade inteira se interessa por um assunto ele se torna uma prioridade.


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